João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


Colunistas Compartilhar
João da Silva

Futuro da Economia Mundial não é nada promissor

As políticas econômicas expansionistas das principais economias do planeta já estão surtindo efeitos negativos na economia global. Esta condição deve se agravar ainda mais nos próximos anos.

• Atualizado

Por

Foto: Pixabay (banco de imagens)
Foto: Pixabay (banco de imagens)

O ano é novo, mas os problemas econômicos do ano ado se arrastam para 2022 e devem continuar maculando o desenvolvimento da economia mundial pelos próximos anos. Este diagnóstico é fruto da análise dos efeitos das políticas econômicas adotadas pelas grandes economias durante a crise da Covid-19. Afinal de contas, com as medidas de restrição à atividade econômica, as quais pressupunham conter o avanço do contágio do coronavírus, criou-se uma desorganização sem precedentes da economia mundial. Com a desorganização das cadeias logísticas e de produção globais associado a repentina queda da renda, bilhões de pessoas e empresas viram sua situação financeira se deteriorar do dia para noite. Inevitavelmente, esta situação econômica pôs em risco o desencadeamento de uma grave crise social. Sem emprego e renda, grande parte da população mundial ficou próximo da pobreza ou da miséria.

Diante de tal cenário, os governos e bancos centrais adotaram políticas fiscais e monetária agressivas para amenizar os efeitos econômicos da pandemia. As taxas básicas de juros atingiram o menor patamar da história em grande parte das economias, trilhões de dólares foram injetados nos mercados financeiros, foi facilitado o o a crédito a indivíduos e empresas, além da concessão de vultosos auxílios financeiros. Enfim, o mundo viveu um momento atípico da história. Os governos basicamente colocaram a economia mundial sob suas costas.

O grande problema é que, como diria Roberto Campos:

“O governo nada pode dar ao indivíduo que primeiro dele não tenha tirado”.

Afinal de contas, os governos só possuem três mecanismos para se financiar: taxação, endividamento e monetização da dívida (impressão de dinheiro). Nós três casos quem paga a conta é a população, seja através de impostos ou da inflação. Ou seja, mais cedo ou mais tarde, a economia mundial precisará ar por um processo de ajustamento. A conta chegará e a crise econômica será inevitável.

Em livros publicados recentemente, importantes figuras do mercado financeiro expressam grande preocupação acerca do futuro da economia mundial. James Rickards, em The New Great Depression (em tradução livre: A Nova Grande Depressão), explica que a destruição de riqueza promovida pelas medidas de restrição ao funcionamento da economia, levou os países a se endividarem substancialmente. Contudo, não há perspectiva para reversão desse quadro, visto que o envelhecimento da população mundial deve colocar ainda mais pressão sobre as contas públicas das principais economias do mundo, com o aumento do gasto previdenciário e de serviços de saúde. O resultado será simples, mas duro: crises fiscais e monetárias.

Uma visão similar é expressa por Ray Dalio, fundador da Bridgewater, o maior hedge fund do mundo. Em seu recém-lançado livro, Principles for Dealing with the Changing World Order (em tradução livre: Princípios para Lidar com a Ordem Mundial em Transição), Dalio argumenta que o ciclo econômico atual deve ser mais curto que os anteriores devido as políticas econômicas extremas tomadas pelos governos e bancos centrais.

O ciclo econômico é simples de entender. Quando os governos aumentam o gasto público através de endividamento e os bancos centrais expandem a oferta de moeda e reduzem os juros, há um estímulo ao crescimento da economia. Com maior o a crédito as pessoas e empresas consomem e investem mais. Consequentemente, a economia a a crescer mais rápido.

Contudo, dois efeitos indesejáveis am a acontecer junto a esse processo aparentemente virtuoso: as taxas de inflação am a aumentar e cresce o nível de endividamento da economia. A inflação sobe porque há um estímulo da demanda sem um crescimento correspondente da oferta de bens e serviços. Já o endividamento aumenta em decorrência do o facilitado ao crédito. Com o aumento da inflação, os bancos centrais am a aumentar os juros para reduzir a inflação. No entanto, com juros mais altos cresce o serviço da dívida. Logo, indivíduos, empresas e até mesmo governos que possuem dívidas elevadas am a ter sua capacidade de pagar suas dívidas reduzidas. Assim, indivíduos, empresas e governos precisam ar por um processo de desalavancagem financeira (redução da dívida) para conseguir sobreviver. Os que não conseguem cumprir suas obrigações recorrem ao calote ou acabam falindo. Inevitavelmente, o consumo e investimento é reduzido. Portanto, a atividade econômica cai e o país pode entrar em recessão.

Atualmente, já estamos começando a ar sobre o “topo do ciclo”. O estoque da dívida mundial é o maior da história, de aproximadamente 300 trilhões de dólares. Além disso, as taxas de inflação estão subindo substancialmente no mundo todo, inclusive entre os países desenvolvidos. Nos EUA, por exemplo, as taxas de inflação são as maiores em 40 anos. Diante de tal cenário, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) e outros bancos centrais já indicam que irão reduzir os estímulos monetários e aumentarão as taxas de juros em 2022.

Com o aumento dos juros e endividamento elevado haverá uma redução da atividade econômica e a economia entrará em crise. Inclusive, com um elevado risco da ocorrência de uma crise financeira. Afinal de contas, tipos de ativos estão com preços “inflados” em decorrência da tentativa dos investidores de se livrarem dos males da inflação – a redução do poder de compra da moeda. Assim, quando a economia ar a contrair, devemos experimentar a brusca queda do preço de diversas classes de ativos, especialmente imóveis e ações.

Para os países emergentes, como o Brasil, a situação deve ser ainda mais grave. Com menos meios de ação para reagir as crises econômicas, o real deve se enfraquecer ainda mais, a inflação deve crescer e os juros devem subir no país. Ou seja, pode-se viver o perigo de uma estagflação (estagnação econômica + inflação). Portanto, deveremos ter uma contração ainda mais acentuada da atividade econômica no Brasil e em outros países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. Tal preocupação já foi expressa pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, que em entrevista recente ao Canal Livre, da Band, quando disse que os bancos centrais estão “dormindo no volante” para conter a inflação. Ademais, para o ministro, o Governo Joe Biden deve acabar de forma desastrosa, em virtude dos erros de condução da política monetária pelo Federal Reserve.

A pergunta que fica é: como evitar que essas crises econômicas aconteçam? O caminho para o crescimento econômico sustentável de uma nação se dá através de elevados níveis de poupança, investimento e um ambiente econômico favorável ao empreendedorismo. Nenhum país consegue ter sucesso ao longo prazo com crescimento econômico baseado em gasto público elevado, endividamento, política monetária frouxa e intervencionismo estatal.

Contudo, o caminho da prosperidade só será atingido com o amadurecimento político e cultural da população, que deve se afastar das ideias populistas que corroem a economia e a democracia. Sem uma mudança no comportamento da população e da classe política nas grandes economias do mundo, será cada vez mais certo o acontecimento de crises, fruto de políticas econômicas equivocadas, as quais sempre buscam o crescimento econômico “fácil” para atingir objetivos políticos. O sucesso econômico, como tudo na vida, depende da frugalidade de nossas ações. Como diria Milton Fridman, “não existe almoço grátis”.  

>>> SIGA O SCC10 NO TWITTERINSTAGRAM E FACEBOOK.

Quer receber notícias no seu whatsapp?

EU QUERO

Ao entrar você esta ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

Fale Conosco
Receba NOTÍCIAS
Posso Ajudar? ×

    Este site é protegido por reCAPTCHA e Google
    Política de Privacidade e Termos de Serviço se aplicam.