João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


João Victor da Silva Compartilhar
KAMALA x TRUMP

Eleição americana: como funciona e o que esperar

Apesar da complexidade do processo eleitoral americano, essa eleição crucial moldará os rumos da economia e da política global.

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Eleição Americana: Como Funcionam e o Que Esperar | Foto: UOL
Eleição Americana: Como Funcionam e o Que Esperar | Foto: UOL

A cada quatro anos, a terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro marca o dia da eleição presidencial nos Estados Unidos, um dos eventos mais importantes do mundo. Afinal, o presidente dos EUA governa o país que representa cerca de um quarto da economia mundial, 40% dos gastos militares globais e emite a moeda de reserva internacional. Os EUA são também o maior produtor de petróleo do mundo, superando até a Arábia Saudita, e abrigam o maior mercado de capitais, avaliado em cerca de US$ 120 trilhões. Além disso, as sete maiores empresas americanas, conhecidas como “Magnificent Seven” — Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla — somam um valor de mercado superior a US$ 15 trilhões, equivalente a sete vezes o PIB brasileiro. Como a maior potência econômica, política e militar do planeta, o resultado das eleições americanas tem repercussões de grande alcance para o mundo inteiro.

Considerando que o processo eleitoral americano é único e a política dos Estados Unidos exerce uma forte influência global, respondo às principais dúvidas que os leitores têm sobre as eleições americanas.

Como o presidente é eleito?

Nos Estados Unidos, o presidente não é escolhido diretamente pelo voto popular, mas por meio de um sistema de colégio eleitoral. Cada estado tem um número de eleitores equivalente ao total de seus senadores e representantes (equivalente aos deputados no Brasil). Esse número pode mudar a cada dez anos, com base nas variações populacionais registradas no censo.

Na maioria dos estados, o sistema de colégio eleitoral segue o princípio do “winner-take-all” — ou seja, o candidato mais votado recebe todos os votos do colégio eleitoral do estado. As exceções são Nebraska e Maine, onde os votos podem ser divididos entre os candidatos, dependendo dos resultados nos distritos eleitorais. São necessários 270 dos 538 votos do colégio eleitoral para vencer a eleição.

Vale lembrar que cada estado possui sua própria legislação eleitoral, o que significa que existem variações significativas nas regras. Muitos estados permitem voto pelo correio, votação antecipada e têm requisitos diferentes para a apresentação de documentos de identificação. Além da eleição presidencial, ocorrerão eleições para a Câmara dos Representantes, para aproximadamente um terço do Senado, para governadores e assembleias legislativas em vários estados, além de plebiscitos estaduais, especialmente sobre questões como a legislação do aborto.

O presidente dos Estados Unidos só é oficialmente eleito no dia 6 de janeiro, quando os votos dos estados são contados e certificados pelo Congresso.

Quais os principais temas dessa eleição?

A economia é um dos principais temas de debate nesta eleição. Embora os Estados Unidos tenham vivenciado uma forte recuperação econômica após a pandemia, a sensação de prosperidade não foi compartilhada por todos, especialmente pelas populações de renda média e baixa, devido ao aumento expressivo do custo de vida. A inflação, que atingiu seu maior nível em quarenta anos, aliada à alta das taxas de juros, impactou duramente a população e afetou negativamente a popularidade do governo de Joe Biden.

Outro ponto em discussão é a imigração ilegal. Durante o governo Biden, estima-se que 11 milhões de imigrantes ilegais entraram no país, gerando preocupações sobre criminalidade, o à moradia e redução de salários para trabalhadores de baixa renda.

A política internacional também está em foco. Após a retirada desastrosa das tropas americanas do Afeganistão, a guerra Rússia-Ucrânia, o conflito no Oriente Médio e o aumento das tensões entre China e EUA, a direção da política externa americana tornou-se uma questão central do debate público. Trump promete encerrar rapidamente as guerras entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio, adotando sua política “América First”, onde os interesses americanos prevaleceriam sobre os de outras nações, inclusive aliados. Harris, por outro lado, defende o fortalecimento das alianças dos Estados Unidos, mas ainda não apresentou uma visão clara para solucionar os conflitos em andamento.

Outros dois temas levantados, especialmente pelos democratas, são o direito ao aborto e a “defesa da democracia”. Após a Suprema Corte dos EUA decidir que a proteção ao aborto (estabelecida no caso Roe v. Wade) deve ser definida pelos estados ou por legislação federal, o debate sobre o tema se intensificou. Os democratas buscam ampliar o o ao aborto, enquanto os republicanos estão divididos — alguns defendem restrições quase totais, enquanto outros preferem uma abordagem mais moderada. Além disso, os democratas têm caracterizado Trump como uma ameaça à democracia, destacando seu confronto com o establishment americano e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 como sinais de risco à estabilidade democrática.

Quem é o favorito na eleição americana?

As pesquisas indicam que os candidatos estão tecnicamente empatados nos chamados “swing states”, estados onde nenhum dos partidos tem domínio consistente nas eleições. No entanto, a média das pesquisas acompanhadas pelo portal Real Clear Politics mostra uma ligeira vantagem para Trump em cinco dos sete estados decisivos. As casas de apostas também apontam Trump como o favorito, com uma probabilidade de 60% de vitória. Entretanto, prever o resultado da eleição americana é desafiador, pois o voto não é obrigatório, o que dificulta avaliar com precisão o perfil do eleitorado mais propenso a comparecer às urnas.

Existem riscos de judicialização da disputa?

A eleição pode acabar sendo judicializada, especialmente em caso de um resultado apertado. Existem várias controvérsias relacionadas ao voto pelo correio, ao o de observadores partidários aos locais de contagem de votos e a outros aspectos das legislações eleitorais estaduais. Caso Harris vença com uma margem muito estreita no colégio eleitoral, é possível que os republicanos entrem com uma ação contestando a distribuição dos votos eleitorais. Alguns republicanos argumentam que o Censo de 2020 não fez uma contagem precisa da população nos estados e afirmam que a Flórida — onde os republicanos devem vencer — poderia ter direito a um ou dois votos adicionais no colégio eleitoral.

Quais as implicações para o Brasil?

Com Harris, as relações entre Brasil e EUA e a configuração da economia global provavelmente não sofrerão mudanças significativas. No entanto, a eleição de Trump pode ter impactos políticos e econômicos para o Brasil. Embora o Brasil não esteja entre as prioridades da política externa americana, uma vitória de Trump poderia esfriar as relações bilaterais. Alguns aliados de Bolsonaro mantêm contatos próximos com Trump, o que pode levar à adoção de medidas que pressionem o Executivo e o Judiciário brasileiros. Do ponto de vista econômico, uma política comercial mais protecionista dos EUA tende a fortalecer o dólar, depreciando o real. Esse efeito se deve ao aumento das incertezas globais e ao fortalecimento natural do câmbio quando um país adota tarifas mais elevadas.

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