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DENÚNCIA

“E esse cabelo aí?”: estagiária denuncia racismo em escola de SC

O vídeo foi divulgado nas redes sociais

• Atualizado

Redação

Por Redação

Foto: Movimento Negro Maria Laura | reprodução
Foto: Movimento Negro Maria Laura | reprodução

Uma estagiária foi alvo de falas racistas dentro de uma escola de educação infantil localizada em ville, no Norte de Santa Catarina. O caso ocorreu no dia 3 de abril, no Centro de Educação A Aldeia do Sol, mas só veio à tona nesta semana.

A jovem Paula de Oliveira Conceição relata que trabalhava normalmente no local, quando foi surpreendida pela fala da diretora pedagógica: “e esse cabelo aí? Vai arrumar”.

O vídeo foi divulgado nas redes sociais. Ainda de acordo com Paula, uma reunião foi realizada com a direção pedagógica da escola, mas ela afirma não ter recebido o apoio psicológico necessário.

O portal SCC10 entrou em contato com a Polícia Civil para obter mais informações sobre a denúncia e apuração do caso. No entanto, não teve retorno até a publicação desta matéria.

O que diz a escola sobre caso de racismo

Em contraponto, o Centro de Educação A Aldeia do Sol emitiu uma nota lamentando o ocorrido e informou que a escola afastou a diretora pedagógica envolvida para que os processos de escuta e reestruturação institucional possam ocorrer com o cuidado e a responsabilidade necessários.

Além disso, a escola afirma que no dia 4 de abril, a jovem solicitou uma reunião com a direção e que, na ocasião, a conversa foi gravada.

“Entendemos que estamos em constante aprendizado, no entanto, reiteramos que a fala registrada é específica, individual, e não representa os valores da escola”, diz a nota.

Após o episódio, a instituição anunciou que apesar de buscar o conhecimento e o letramento nas áreas da diversidade, equidade, inclusão e antirracismo, agora, terá um plano de ação mais estruturado, a ser desenvolvido e aplicado não apenas para os profissionais, mas também para as famílias e crianças.

Leia a nota:

Desde o dia 8 de abril, está sendo veiculado um vídeo nas redes sociais sobre uma denúncia de racismo ocorrido em nossa escola. O Centro de Educação a Aldeia do Sol lamenta profundamente o ocorrido, reconhece a dor gerada e reafirma o nosso compromisso com a escuta ativa e respeitosa.

Com 26 anos de atuação, diversos projetos pedagógicos desenvolvidos e mais de mil crianças atendidas, sempre pautamos nosso trabalho em valores que prezam o respeito e a equidade, direcionando nossos esforços para promover uma educação melhor e mais humana.

É importante salientar alguns pontos não apresentados no vídeo veiculado no dia 8 de abril: O fato em questão ocorreu em 3 de abril. No dia 4 de abril, a própria estagiária solicitou uma reunião, ocasião em que foi gravado o áudio da conversa, sem o conhecimento das partes envolvidas.

Nesse encontro, a estagiária prontamente fez o pedido de desligamento sem que houvesse tempo para um diálogo ou para buscarmos uma solução interna.

Diante das proporções e da seriedade do ocorrido, decidimos pelo afastamento da diretora pedagógica, para que os processos de escuta e reestruturação institucional possam ocorrer com o cuidado e a responsabilidade necessários. Entendemos que estamos em constante aprendizado, no entanto, reiteramos que a fala registrada é específica, individual, e não representa os valores da escola.

Apesar de buscarmos, dia após dia, o conhecimento e o letramento nas áreas da diversidade, equidade, inclusão e antirracismo, agora, mais do que nunca, teremos um plano de ação ainda mais estruturado, a ser desenvolvido e aplicado não apenas para os nossos profissionais, mas também para as famílias e crianças, promovendo o diálogo e a escuta ativa. Essas ações têm início já neste mês, como demonstração clara do nosso compromisso e da seriedade com que tratamos este tema.

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Por Redação

Foto: Cottonbro | Pexels
Foto: Cottonbro | Pexels

Em mais um Novembro Negro, considerado o mês da Consciência Negra, ainda é preciso falar sobre racismo estrutural. A língua portuguesa ainda carrega diversas expressões que têm sua origem no período escravocrata ou associam o povo negro a conotações pejorativas. São termos que ainda podem ar despercebidos no dia a dia mas.

“As pessoas usam certos termos, convivem com atitudes racistas e nem percebem. Em um país em que mais de 50% da população é negra, isso é muito grave”, aponta Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio e doutorando em Literaturas Africanas. O professor explica que não basta entender que existem expressões racistas, mas que é preciso combatê-las para conseguir quebrar a lógica do racismo estrutural na sociedade brasileira.

E para combater este problema, o docente indica que o primeiro o é disseminar o conhecimento de forma ampla em todos os espaços, desde o ensino nas escolas, nas faculdades, nas pautas da mídia, nas políticas públicas, entre outros. O Neabi, idealizado por ele, é um exemplo de iniciativa presente na academia, que trabalha pela formação de consciência dos discentes e também da comunidade, através de leituras, debates e ações. “O projeto foca na evolução intelectual dos alunos através do estudo de literaturas escritas por pessoas negras. São estudiosos com alicerce teórico responsável e com uma trajetória de luta e combate ao racismo. Temos uma trajetória curta mas muito brilhante. Já conseguimos perceber a mudança de muitos alunos”, orgulha-se.

O racismo estrutural presente na língua portuguesa também é um dos temas debatidos nos encontros promovidos no grupo de acadêmicos. Termos como “Meia tigela”, “a dar com pau” e “fazer nas coxas” são algumas das expressões que carregam o contexto histórico de toda a opressão sofrida pelo povo negro, antes e depois da abolição da escravatura. E para gerar luz sobre o assunto, Gonçalves cita sete colocações de cunho racista e explica suas origens. Confira abaixo.

1 – Mulata

A palavra “mulata” faz referência ao animal “mula”, que seria o filhote do cruzamento de um cavalo com uma jumenta ou de um jumento com uma égua. No Brasil Colônia, o adjetivo “mulata” era usado para se referir às mulheres negras, ou oriundas de um relacionamento mestiço. Gonçalves explica que o termo não é mais aceitável e é considerado pejorativo, o ideal seria apenas falar “mulheres negras”, quando necessário fazer referência à cor ou etnia.

2 – Denegrir

“O português é a língua do colonizador, que é cheia de termos racistas”, explica o professor. Ele aponta que o significado do verbo “denegrir” é utilizado como sinônimo de “difamar”, porém a etimologia da palavra significa “tornar negro”. A expressão faz uma relação entre a negritude e algo maldoso ou negativo.

3 – Fazer nas coxas

Essa é mais uma expressão herdada do Brasil Colônia. O professor explica que há divergências do surgimento desse termo, acredita-se que ele vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas.

4 – Doméstica

A palavra “doméstica” se refere às mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas, já que os negros eram vistos como pessoas selvagens. “Eu cresci ouvindo as minhas irmãs sendo chamadas de domésticas. Este era um termo muito popularizado no Brasil dos anos 80”, relembra o docente.

5 – Meia tigela

A expressão “meia tigela” também é uma herança do período escravocrata. Naquela época, os negros que não conseguiam cumprir as metas de trabalho, recebiam apenas metade da porção de comida e eram apelidados de “meia tigela”. O termo se refere a algo sem valor, medíocre.

6 – A dar com pau

Essa expressão refere-se aos navios negreiros, onde os negros que não obedeciam recebiam uma alimentação dosada por uma colher de pau. O termo significa “pouco” ou que alguma pessoa não é digna de consideração.

7 – Inhaca

“Inhaca” é o nome de uma ilha de Moçambique, país da África Oriental. Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. A expressão reforça preconceitos ao associar a ilha, onde a população é majoritariamente negra, a algo desagradável e nojento.

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